sexta-feira, novembro 17, 2006

Até aos 75...

Invariavelmente as velhas falam de duas coisas: mal de alguém (em que a grandessíssima maioria esse alguém é outra mulher - vizinha, nora, enteada, cunhada, sogra, namorada do neto) ou sobre doenças. Hoje de manhã, dentro do carro, enquanto esperava que o camião da panrico fornecesse a mercearia, observei duas. Pelas caretas retorcidas, pelas posições e gestos adivinhava-se o óbvio. Abri o vidro e desliguei o rádio. Ora cá está. Uma tiroide afectava a senhora. E a outra, pouco interessada na tiróide da vizinha, contorcia-se e apontava para o seu joelho, à espera da 1ª oportunidade para se puder queixar.
Os velhos falam também, invariavelmente de duas coisas: futeból ou uma mistura de um passatempo (caça, cartas, dominó, selos) com gajas (normalmente sucessos do passado). Não é que o tema seja melhor, mas a atitude é bem mais positiva. Os velhos estão normalmente mais bem-dispostos. E quando estão zangados, estão zangados ali mesmo, na cara, e berram uns com os outros, sobre o árbitro que roubou o glorioso. Por isso é fácil, ao atravessar a Alameda quando vou aos correios, passar pelos grupos de velhos que por ali estão, a jogar às cartas, e vê-los a dar gargalhadas, a brincarem uns com os outros e olharem para as pernas das miúdas que passam. E até mesmo a lançarem piropos como se de jovens se tratassem. As velhas não. Só se vêem pelos cantos, às portas de casa, a contorcerem-se, com caras de sofrimento a lamentarem-se, a dizerem mal de tudo, cheias de dores.

2 Comments:

At 12:36 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Gajas...

:)

Toni Rebel

 
At 8:30 da tarde, Anonymous Anónimo said...

De certo modo é verdade. Os homens com a sua infantilidade, são mais levezinhos na abordagem da vida.Alguns!

 

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