segunda-feira, fevereiro 21, 2005

Somos a 1ª Força Política

Ainda não falam em nós. Ou melhor. Já falam, mas muito pouco. Não dá muito jeito para as forças políticas, eleitas democraticamente, por cidadãos, que estão a exercer o seu “direito”, ou melhor, o seu “dever” , comentarem que a abstenção foi mais uma vez elevadíssima ( dado ainda por cima a importância e exaltação inerentes a estas eleições) e que com 35% de valor nacional é a maior “vontade” dos portugueses.

O PS teve um resultado histórico para o partido atingindo pela primeira vez a maioria absoluta. E ainda por cima expressiva. O nosso país ontem parecia o autêntico mapa cor-de-rosa com vitória em todos os distritos com excepção de Leiria e da Madeira ( e mesmo neste conseguiram eleger o mesmo número de deputados que o PSD). Mas que grande vitória é essa? Vamos partir do pressuposto que somos mais de 10 milhões de portugueses, 9 milhões votantes. Se 35% não votou significa que foram às urnas 5.850 milhões. Se o PS obteve 45 %, 45 % de 5.850 milhões são 2.632 milhões, ou seja, a maioria absoluta do PS, a grande e expressiva vitória para o partido resume-se a 2.632 milhões de eleitores. A abstenção com 35% de 9 milhões arrecada 3.150 milhões de portugueses que, certamente por diferentes razões, resolveram não votar. Parabéns abstenção! Nós somos a maioria!

A ida às urnas legitima o poder democrático. Sem o voto dos cidadãos os políticos são representantes de quem? O crescente aumento e o sempre significativo resultado da abstenção quer em Portugal, quer no resto da Europa, tem, nos dias de hoje, um duplo significado. O desinteresse e o “com este dia de sol, prefiro ir para a praia” razões sempre atribuidos à abstenção está a dar lugar a uma posição política, a uma falta de confiança generalizada não só em relação aos líderes, mas também (ou se calhar, acima de tudo) ao próprio sistema político em vigor. A abstenção ameaça um sistema de regras e gestão que já provou ser ineficaz. Ninguém quer voltar para uma ditadura ou ter um Rei ( nem mesmo um Valete! ) mas necessitamos urgentemente de uma nova postura política. Algo que não permita a existência de “Assassinos Económicos”, ou melhor, indivíduos especializados ( economistas, gestores, estrategas) que trabalham para empresas ( mas que na verdade trabalham para os estados) que apresentam soluções atraentes a outros individuos/empresas ou países e que os tornam dependentes para o resto das suas vidas. (Exemplo dívida externa da Argentina, Chile, Tailândia, ....).

A história é cíclica. E estamos em altura de mudança. Não foi isso que nos apregoaram durante a campanha? O que necessitamos hoje é de um regime feito de pessoas, para pessoas. Um regime que não esconda o que o ser humano realmente quer! Mas que também saiba o que realmente o ser humano é! Não podemos continuar a esconder as nossas próprias características. Já todos sabemos que o ser humano não é mau, que todos somos, ou queremos ser, uns porreiros. Mas quem pode negar que somos também uma cambada de egoístas, egocêntricos e simpatizantes do materialismo? Dá para começar a pensar em uma mudança na própria democracia?